20.2.07

O homem das capas



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Livro e exposição marcam a carreira de um dos mais destacados artistas gráficos do Brasil, o designer João Baptista da Costa Aguiar, responsável pela identidade visual de autores como Philip Roth e Paul Auster e pela renovação da linguagem plástica de editoras como a Companhia das Letras

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Antes das incorporações de pequenas editoras por grandes conglomerados, resultante do processo de globalização, livros não eram tratados como simples produtos de consumo massivo e capas não eram assinadas por escritórios de design. Existiam pessoas físicas , marcos de referência do mundo editorial, pensando a tipografia, o desenho e a identidade das capas. Reconhecia-se, enfim, a paternidade visual de um livro. João Baptista da Costa Aguiar é desse tempo. E continua como um dos últimos designers - ao lado de nomes como Moema Cavalcanti, Ettore Bottini e Raul Loureiro - cujo trabalho autoral é reconhecido de imediato por uma legião de leitores que já se acostumou, por exemplo, a identificar Paul Auster pelas capas de Costa Aguiar. Há 40 anos atuando na área de artes gráficas, o artista vai ser homenageado, no dia 28, com o lançamento de um livro pela editora Senac e uma exposição de seu trabalho gráfico no Instituto Tomie Ohtake.

Antes das incorporações de pequenas editoras por grandes conglomerados, resultante do processo de globalização, livros não eram tratados como simples produtos de consumo massivo e capas não eram assinadas por escritórios de design. Existiam pessoas físicas , marcos de referência do mundo editorial, pensando a tipografia, o desenho e a identidade das capas. Reconhecia-se, enfim, a paternidade visual de um livro. João Baptista da Costa Aguiar é desse tempo. E continua como um dos últimos designers - ao lado de nomes como Moema Cavalcanti, Ettore Bottini e Raul Loureiro - cujo trabalho autoral é reconhecido de imediato por uma legião de leitores que já se acostumou, por exemplo, a identificar Paul Auster pelas capas de Costa Aguiar. Há 40 anos atuando na área de artes gráficas, o artista vai ser homenageado, no dia 28, com o lançamento de um livro pela editora Senac e uma exposição de seu trabalho gráfico no Instituto Tomie Ohtake.

No mesmo dia, Moema Cavalcanti estará na Universidade do Livro ministrando uma oficina sobre a criação de capas de livro destinada a profissionais, assunto que parece novamente merecer a atenção do mundo editorial. Bom sinal. Simultaneamente, no Centro Cultural São Paulo, está sendo realizada a exposição Prontos para Ler, que reúne 300 livros editados na Espanha entre 2000 e 2005, mostrando exatamente como as transformações econômicas no País trouxeram com elas uma mudança radical no processo de produção de capas. A Espanha, como se sabe, costumava ser - e o tempo do verbo se justifica - o celeiro gráfico da Europa, com revistas experimentais como El Paseante, editores refinados como Jacobo Siruela e designers gráficos do nível de Daniel Gil, diretor artístico da Alianza Editorial.

Costa Aguiar é o correspondente brasileiro de Daniel Gil. Há 40 anos ele estava participando da nona edição da Bienal de São Paulo ao lado dos grandes nomes da arte pop americana. Há 30, desenhava cartazes para o cinema marginal produzido na Boca do Lixo, em São Paulo. Há 20, era diretor editorial da revista Vogue. Como se vê, experiência profissional (eclética) ele tem de sobra. Autodidata, começou a desenhar capas de livros quando o Brasil nem sabia o que era um designer gráfico e Eugênio Hirsch dominava, solitário, a área, assinando todas as capas da editora Civilização Brasileira. Foi quando o editor Luiz Schwarcz, em 1987, ao criar a Companhia das Letras, convidou Costa Aguiar para desenhar o logotipo da nova editora, que já começou revolucionando. No lugar de uma, o designer apresentou várias propostas, todas aceitas e identificando até hoje diferentes coleções da editora.

Há quem imagine, por isso, que ele seja artista exclusivo da editora. Não. Antes de virar capista, Costa Aguiar desenhou pequenos cartazes que apresentavam os créditos dos programas na extinta Tupi, quando a televisão era feita ao vivo. Criou também cartazes, logotipos de restaurantes e colégios e foi o responsável pela identidade visual da frota de ônibus municipais que circulavam pela cidade na gestão Erundina. Não foi uma escolha sua a especialização como capista, diz. Como as capas representavam um terreno fértil para a experimentação, ele preferiu esse caminho. Autores como Philip Roth agradecem até hoje.

Roth é um caso curioso. O designer conta que uma capa não aprovada de imediato pelo editor Luiz Schwarcz acabou sendo adotada internacionalmente por insistência do próprio autor de A Marca Humana, que faz questão de supervisionar a produção gráfica de seus livros. A capa reproduzia a própria mão do designer escaneada. Lidando com computação gráfica desde os primórdios do PC, ele mantém fidelidade à tradição tipográfica e prefere não ser chamado de designer justamente por buscar um ponto de equilíbrio entre a construção racional e o improviso.

Sua intuição levou-o a criar um dos mais bonitos projetos gráficos dos últimos anos, o dos livros de Paul Auster. Atento ao pano de fundo de A Noite do Oráculo - um caderno azul comprado numa loja chinesa, que fomenta a misteriosa trama -, Costa Aguiar foi atrás de uma cartolina azul e ondulada de embalagem de caixa de maçã. Para outro livro do autor americano, A Invenção da Solidão, ele escolheu uma lata de sardinha vazia para o jogo metafórico que anuncia o conteúdo do livro, o trabalho de luto de um homem pela morte do pai. 'Nada mais vazio que uma lata de sardinha', diz Costa Aguiar. Ou nada mais direto que o osso de uma bisteca para ilustrar a capa de Timbuktu, sobre a amizade de um cão vira-lata e um poeta maluco. Essa obviedade, diz Ethel Leon, autor do texto do livro do Senac em homenagem ao autor, 'é difícil', mas 'reconhecível depois de alguns segundos' de estranheza seguido de um 'lógico'. Tem, segundo ele, o apelo das sinapses. E a perenidade de um clássico, faltou dizer.

Por Antonio Gonçalves Filho
O Estado de São Paulo / Caderno 2

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