3.2.09

Mostra “Roberto Sambonet – Do Brasil ao Design”



A mostra “Roberto Sambonet – Do Brasil ao Design”, no Museu da Casa Brasileira, é uma viagem pela obra do artista italiano, um dos ícones do design do século 20. Com mais de 400 itens, entre objetos, gravuras e pinturas, distribuídas nas cinco salas de exposição temporária do MCB, temos um itinerário através de suas atividades como artista plástico, designer gráfico e industrial. “Sambonet é um dos grandes nomes do design italiano do pós-guerra, e ele foi muito influenciado por sua temporada no Brasil, onde fez a descoberta da flora, da fauna e do nosso artesanato junto com Lina Bo Bardi”, diz Fábio Magalhães, co-curador da mostra. As obras de Sambonet são exibidas no MoMA de Nova Iorque e em outros museus.

Com curadoria do arquiteto, crítico e historiador de design italiano Enrico Morteo, a mostra é uma realização do Museu da Casa Brasileira, da Secretaria de Estado da Cultura, com apoio do Instituto Italiano de Cultura. “Trazer hoje Roberto Sambonet ao Brasil não foi uma escolha casual, porque foi justamente no Brasil que teve início sua longa pesquisa”, diz Enrico Morteo. “A representação foi seu instrumento de investigação: com o desenho, trouxe à tona a geometria das estruturas, registrou as diferenças e as particularidades que distinguem cada caso. (...) É aqui que se revela o grande designer, capaz de destilar a forma mais pura sem perder a riqueza do múltiplo ou de, ao contrário, escolher uma linguagem figurativa sem renunciar ao rigor da precisão.”

No final da Segunda Guerra, Roberto Sambonet (1924-1995) era um jovem pintor boêmio numa Itália em reconstrução. Foi quando veio para o Brasil, onde viveu de 1948 a 1953. Ficou muito próximo de Lina Bo e Pietro Maria Bardi na época da fundação do Masp, onde também deu aulas de artes gráficas e estamparia no extinto Instituto de Arte Contemporânea. Fez cartazes para o Masp e para o 1º Desfile de Moda Brasileira. Pietro Maria Bardi auxiliou e incentivou os interesses artísticos de Sambonet, mas o colocou também em direção à cultura material. Foi, no entanto, o encontro com o Brasil que operou uma mudança de perspectiva.

Durante seus cinco anos em terras brasileiras, ficou amigo do psiquiatra Edu Machado Gomes, que deu permissão para Sambonet freqüentar por seis meses o manicômio de Juquery, com 15 mil internos, a 50 quilômetros de São Paulo. Ali, ele conduziu uma exploração pessoal dos territórios da doença mental. Em Milão, publicou entre os anos 1960 e 1970 o livro "Juqueri, Esperienza Psichiatrica di un Artista" ou "Della Pazzia" (Da Loucura), com a série notável e desconcertante de desenhos que fez tendo como tema os pacientes do manicômio. Em 1982, Sambonet retornou ao Brasil e fez uma viagem ao longo do rio Amazonas, que resultou num ciclo de aquarelas particularmente vívidas.

Na história do design italiano, Roberto Sambonet é um dos destaques do século 20. “Sambonet usou a forma como pretexto evocativo porque sabia que a função nunca vem desprovida, mas coberta de intenções, usos, lembranças, possibilidades”, diz Enrico Morteo. “Uma forma simples é sempre mais versátil porque deixa espaço para novas interpretações, assim como trabalhar em módulos permite inventar funções inesperadas”.

Fábio Magalhães conta que Sambonet era filho de uma família de industriais da área metalúrgica, que produzia panelas e talheres. Ele começou fazendo um novo design para estas peças. Reformulou as embalagens e toda a identidade visual da pequena empresa, que prosperou com peças de qualidade e design original. Magalhães cita duas das mais famosas peças de Sambonet: a panela Peixe, de 1957, que conquistou o Prêmio Compasso d’Oro 1970; e o conjunto de copos de vidro para água, vinho branco e vinho tinto, que por fora eram de tamanhos iguais. “Estes copos são uma referência no design mundial”, diz ele.

Além do intenso envolvimento cultural, Sambonet trabalhou como consultor para grandes empresas, como a La Rinascente, loja de departamentos da Itália, passando sobre a concepção de vidro e cristal para Baccarat, Seguso, Murano e Tiffany, e porcelana para Bing & Grondhal. Ele atuou como consultor em design gráfico para empresas como Pirelli, Alfa Romeo e Renault.

Como artista plástico, pintava retratos e paisagens. Com uma técnica clássica e um estilo pictórico oitocentista, Sambonet encarou o retrato com absoluta modernidade, reduzindo ao mínimo as variantes de pose e trabalhando as características individuais. A pintura de paisagem é uma ocasião para verificar a profundidade do olhar, que passa da visão aproximada ao foco no infinito.

A mostra “Roberto Sambonet – Do Brasil ao Design” fez parte da II Bienal Brasileira de Design (II BBD), realizada em Brasília, no segundo semestre do ano passado.

Serviço
Exposição: “Roberto Sambonet – Do Brasil ao Design”
Visitação: de 29 de janeiro a 15 de março, de terça a domingo, das 10h às 18h
Saiba mais: www.mcb.sp.gov.br

Fonte: Rede Design Brasil

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