8.1.10

Estrela do bicentenário chileno, Museu da Memória e dos Direitos Humanos será inaugurado em janeiro, em Santiago

Para dar inicio às comemorações do bicentenário da independência chilena,a atual presidente do Chile, Michelet Bachelet, inaugura no dia 11 de janeiro o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago. Considerado a mais importante iniciativa cultural do governo Bachelet, o museu vai contar com um acervo que expõe, entre outras instalações, o atropelo aos direitos humanos ocorrido entre 1973 e 1990, período do regime militar em que o ditador Augusto Pinochet comandou com mãos de ferro a vida no Chile.

Experiência similar ao Museu do Holocausto, em Washington, e ao Museu Distrito Seis, na África do Sul, o Museu da Memória chileno tem projeto arquitetônico do escritório brasileiro Estúdio América – Carlos Dias, Lucas Fehr, Mario Figueroa e Roberto Ibieta, vencedores do concurso público internacional realizado pelo Ministério de Obras Públicas (MOP), em 2007. O edifício tem em seu interior paredes de vidro com uma veladura externa de chapas de cobre expandidas e ocupa uma área de 5.500 metros quadrados. Como indutor de transformação, será a mais contemporânea construção de um bairro onde também estão localizadas a Biblioteca de Santiago e o Centro Cultural Matucana 100, com o qual o Museu está integrado.

Com o intuito de provocar uma reflexão sobre os direitos humanos no Chile e no mundo, o moderno centro museográfico será inaugurado com uma exposição temporária sobre o regime do Apartheid, na África do Sul. Em sua coleção permanente, contará com arquivos, documentos, recortes de jornal referentes ao período militar, além de testemunhos e obras de expressivos artistas contemporâneos chilenos, como Alfredo Jaar e Jorge Tacla. As obras expostas darão voz a algumas das vítimas do período de ditadura, como o compositor Victor Jara, maior representante de uma geração de artistas engajados que usaram sua arte como instrumento de transformação social no Chile. No ano do golpe, Victor foi barbaramente assassinado no Estádio Nacional, após ser brutalmente espancado e ter as duas mãos esmagadas.
A arquitetura do museu

Segundo os arquitetos do Estúdio América, o projeto do Museu foi pensado a partir do caráter fragmentado e não linear da memória e de suas imagens. Apesar das condições sísmicas do Chile, o Museu realiza um dos maiores vãos livres do país, com 51 metros entre apoios. O grande volume – a barra - vence a gravidade e sombreia a base da grande rampa.

Segundo o arquiteto Mario Figueroa, um dos sócios do Estúdio América, o projeto do Museu foi pensado a partir do caráter fragmentado e não linear da memória e de suas imagens.
“Procuramos desenvolver um projeto aberto, flexível, capaz de acolher qualquer tipo de mostra e de armazenar e transmitir esse conhecimento de maneira ampla e imparcial. O objetivo foi criar uma espécie de arca, onde se pudessem depositar todas as reminiscências da história chilena”, afirma o arquiteto. “O Chile é um pais singular, localizado entre a cordilheira e o mar. O museu foi projetado para ocupar esta franja, reverenciando, por meio de um olhar simbólico, esses dois elementos determinantes da geografia chilena”.

Ao contrário da maioria dos museus, que consistem em uma sucessão de salas separadas umas das outras, o edifício do Museu da Memória é constituído por um grande espaço em três níveis, sem paredes transversais, que se integram de modo que o visitante não perca a noção do conjunto. “Os paramentos que dividem os ambientes são todos de cristal serigrafado com fotografias que ilustram a dor, a angústia e a opressão a que o povo chileno foi submetido”, explica o arquiteto Lucas Fehr, co-autor do projeto. “Ao mesmo tempo, o cristal garante a luminosidade dos espaços e de alguma forma reduz a tensão causada pela exibição de episódios tão traumáticos da história do Chile”.

De acordo com os arquitetos, o projeto buscou criar lugares e marcos físicos e mentais, que oferecessem condições para que o conhecimento germinasse de cada indivíduo. “Somente aquilo que uma pessoa descobre por ela mesma pode acumular-se como memória ativa. Um espaço dedicado à memória pode não só transmitir informações, mas também provocar a reflexão sobre as recordações e os desejos”, afirma Lucas.

O Museu da Memória não foi projetado para ser um monumento isolado, solto e sem função urbana. Ao contrário, se constituirá em um elemento comprometido diretamente com a delimitação e caracterização desse novo espaço público da cidade de Santiago. “Propõe-se um espaço generoso, amplo de possibilidades e percursos que permite a transposição natural e cotidiana da quadra em que está localizado. Os elementos urbanos que compõem o Centro Matucana têm caráter cívico. A grande rampa do Museu, a Praça da Memória e o pátio-jardim constituem uma seqüência espacial que oferece uma hierarquia urbana necessária para um complexo metropolitano” dizem os arquitetos. Na grande praça, o espaço generoso, público e sempre acessível, foi pensado para ser apropriado para as manifestações da civilidade e da democracia.

O arquiteto Carlos Dias, também autor do projeto, explica que o Museu da Memória não foi projetado para ser um monumento isolado, solto e sem função urbana. Ao contrário, se constituirá em um elemento comprometido diretamente com a delimitação e caracterização desse novo espaço público da cidade de Santiago. “Propõe-se um espaço generoso, amplo de possibilidades e percursos. que permite a transposição natural e cotidiana da quadra em que está localizado. Os elementos urbanos que compõem o Centro Matucana têm caráter cívico. A grande rampa do Museu, a Praça da Memória e o pátio-jardim constituem uma seqüência espacial que oferece uma hierarquia urbana necessária a um complexo metropolitano”.

O conjunto do Museu deverá ser complementado no futuro pelo Centro Matucana, destinado a escritórios públicos e privados, objeto do mesmo concurso, e que conclui a proposta da equipe vencedora.

No comments: