2.2.10

CCBNB-Fortaleza abre exposições individuais de Maíra Ortins e Fernando Ribeiro

O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) abrirá duas exposições individuais nesta quinta-feira, 4, às 19 horas. São elas: “Eu vejo, tu olhas... ele déjà vu”, do paulista Fernando Ribeiro, com curadoria de Nelson Leirner; e “Segredo de travesseiro é sonho”, da pernambucana Maíra Ortins, com curadoria de Ricardo Resende. Gratuitas ao público, as duas mostras ficam em cartaz no CCBNB-Fortaleza até o próximo dia 5 de março (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 10h às 18h).



Um segredo dito em versos (texto do curador Ricardo Resende, sobre a exposição “Segredo de travesseiro é sonho”, de Maíra Ortins)

Escrever um texto crítico sobre uma obra, como disse a crítica de arte norte-americana Rosalind Krauss em uma palestra recente em São Paulo, é “penetrar” e “comunicar” os processos de criação do artista para o público.

O trabalho de arte em si perdeu lugar para o processo artístico na arte contemporânea. Isto vale dizer que caberia a um crítico, ao comentar sobre um artista, ou como disse Krauss, ao penetrar sua obra, discorrer sobre o suporte técnico em que se dá a criação artística. Para ser mais claro, é tratar de como o artista chegou no trabalho que está sendo apresentado. Trata-se de falar do meio, o que está entre a ideia e o resultado.

O tempo, o pensar, o realizar, o material, a construção, os envolvidos, as motivações, os trabalhos anteriores e o conjunto da obra em si passam a ser centrais na compreensão de um trabalho artístico, ou seja, o tudo e o todo de um gesto criativo. Entender a narrativa principal passa a ser secundário diante da complexidade dos processos artísticos.


O que Maíra Ortins nos apresenta nesta exposição no Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Fortaleza, é uma arte híbrida e inteligente que mistura as artes plásticas com a poesia literária no arranjo de palavras, desenhos, objetos e coisas que compõem sua exposição. Na verdade, o que apresenta configura-se como uma única grande instalação.


A mostra “Segredo de travesseiro é sonho” é resultado de uma pesquisa em poéticas visuais que a artista vem desenvolvendo desde 2007 na tentativa de captar o universo lírico da palavra através de desenhos inseridos diretamente sobre a parede, a madeira, o papel, a fotografia, por meio de vídeo, sobre placa de acrílico, sobre tecido e outros suportes e materiais.

Maíra Ortins, que tem formação em Letras pela Universidade Federal do Ceará, usa as palavras para aumentar os sentidos das obras expostas. Os materiais apresentados também têm a função em sua obra de potencializar as palavras de maneira a explorar os universos infinitos dos sentidos. Trata-se de uma via de mão-dupla, em que o arrebatamento visual e literário provoca grandes emoções naqueles que se permitem “penetrar” pelas sensações e lembranças de amores vividos ou não. É também febre e memória dos afetos.

O resultado visual é um certo caos nas paredes ou sobre os tecidos, como é o sentimento do amor quando nos toma o corpo e a alma, quando, ainda na forma de paixão, nos vira a vida do avesso e transborda o corpo com seus fluidos. Esse caos nada mais é do que a aceitação desta desordem interior, que nos joga contra a parede diante da paixão pelo outro, pelas coisas, pelas palavras, pelo mundo, enfim, pela vida.

Maíra expõe de maneira visceral a sua intimidade. Dos sentimentos mais interiores desprendidos no gesto de escrever, de borrar de vermelho a parede e o interior de suas caixas. É como se artista falasse com o coração ao segurá-lo nas palmas das mãos. Parece apertá-lo até sangrar e jorrar neste gesto enérgico que faz escorrer o sangue que carrega no seu interior sobre a parede, sobre o tecido, sobre a manta de algodão.

Maíra, que começou sua jornada artística pela gravura, invade com seu carmim as paredes da sala de exposição e desprende vigorosamente traços densos. Usa o corpo como expressão. Usa a força do texto-imagem. A palavra se transforma em desenho, das linhas que rasgam as paredes como se fossem rios venosos de sentimentos.

“O travesseiro vermelho, costurado sobre a seda, potencializa a simbologia carregada pelo desenho, dinamiza o espaço fictício que essa imagem propicia: um segredo, dito em versos, sobre o travesseiro uma mulher que flutua, num movimento contínuo”.

Com essas palavras, Maíra Ortins parece querer afogar sentimentos passados numa tentativa de livrar-se daqueles amores e sonhos que nos aprisionam no decorrer da vida.




Exposição “Eu vejo, tu olhas... ele déjà vu”, de Fernando Ribeiro
O CCBNB-Fortaleza inaugura a exposição Eu vejo, tu olhas ... ele Déjà Vu do artista plástico Fernando Ribeiro, com 30 obras em suportes diversos de sua fase da série Déjà Vu. Os trabalhos, criados especialmente para a exposição, exibem o relacionamento do artista e sua interpretação pessoal da História da Arte; não são criadas com base em suposições. Fernando Ribeiro não se preocupa com o conhecimento profundo da arte por seu observador, mas sim sua identificação com ícones de seu repertório. É um artista que adapta antigos conceitos às novas mídias.
Diferentes suportes são utilizados pelo artista que se utiliza desta diversidade para criar obras a partir da observação crítica do corriqueiro e do banal uma vez que Fernando Ribeiro acredita que “tudo está aí, em suspensão, só que quase ninguém vê”.

Em Eu vejo, tu olhas... ele Déjà Vu, o artista mostra uma pintura inédita em acrílica sobre tela, algumas com o diferencial da inclusão de assemblages. Assim o artista inova com o princípio da transformação de uma obra plana em tridimensional.

Outra obra presente é composta por um álbum e uma caixa-objeto de tiragem limitada a 40 exemplares. Este trabalho é composto por uma série de 10 gravuras originais, da série Déjà Vu, com dupla utilização já incluída no seu conceito original: com a composição sugerida com a caixa-objeto, que também é uma obra completa por si só, ou cada gravura exposta de forma isolada. Em suportes atuais, um álbum eletrônico, vídeo instalação, exibe imagens das gravuras de forma transmutada, permitindo a visualização, em mídia eletrônica, das imagens que compõe o álbum físico, em sequência randômica.

Suportes contemporâneos, onde Fernando Ribeiro exibe sua habilidade com as novas mídias, estão presentes nos dois trabalhos compostos por uma pequena tela de plasma portátil, com moldura própria e opção de caixa de sustentação própria.

No momento atual o artista se recria com a utilização de sua série Déjà Vu vista por um novo ângulo, posicionando-a em nova etapa. Em fases anteriores, os trabalhos eram executados primeiro em papel, depois gravura. A progressão da série se dá a partir do momento em que a pintura começa a absorver assemblages de outros materiais – alto relevo e também através da subversão da ordem normal das coisas. Acrescente-se a isso, as mídias eletrônicas.
Fernando Ribeiro define sua mostra: “uma exposição onde a arte conversa com a arte!”

Déjà Vu – a série
“Déjà Vu” é composta por uma seleção de trabalhos onde Fernando Ribeiro faz pequenas intervenções, delicadas e irônicas, sobre obras de outros artistas, seguindo uma linha histórica dos autores que mais o agradam. As pinturas sobre papel falam do momento atual da arte em que se diz que “tudo já foi feito”.

Em seu trabalho, Fernando Ribeiro interfere em obras de artistas consagrados como Marcel Duchamp, Pablo Picasso, Andy Warhol, Miró, Man Ray e os brasileiros Leonilson, Bispo do Rosário e Nelson Leirner, entre outros. “Não aguento mais as pessoas falarem que tudo já foi feito e que a arte está ensimesmada. A ironia é a forma que vi para dizer que mesmo se fazendo o trabalho dos outros a gente pode criar e se divertir”, afirma.

Para o artista, o lado divertido da brincadeira é que ao receber o nome “Déjà Vu”, a obra toda vira uma provocação ímpar com um resultado estético belíssimo. “Achei tudo tão interessante que produzi feito um louco, sem achar que fosse virar uma individual em tão pouco tempo. No meio do caminho, percebi que havia uma linha histórica sobre a arte, foi absolutamente instintivo. E vi que isso era bom, pois passava pelos meus prediletos, o que eu também não havia pensado”, afirma.

Sobre Maíra Ortins
Maíra Ortins nasceu em Recife (PE), Brasil, em 1980. De 1995 a 1998, estudou desenho, pintura e escultura em argila pela Escolinha de Arte do Recife. Em 2001, faz curso de xilogravura em cor com Sebastião de Paula e Nauer Spindola, através do Instituto Dragão do Mar na cidade de Fortaleza. Em julho de 2002, faz o curso “Fotografia, imagem Fotográfica e Arte visual no Brasil”, com o Dr. Tadeu Chiarelli no Dragão do Mar de Arte e Cultura. Ee 2001 a 2003, monitora na oficina de gravura do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará. De 2005 a 2008 foi diretora da Galeria Antonio Bandeira e do Memorial Sinhá D'amora da Secultfor – Secretaria de Cultura de Fortaleza. Possui Graduação em Letras – Licenciatura em Português/Literatura em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Ceará (2006). Atualmente é Coordenadora de Artes Visuais da Secretaria de Cultura de Fortaleza – SECULTFOR, onde desenvolve pesquisas sobre poéticas visuais, congregando suas experiências nas áreas de Literatura e Artes Visuais. É desenhista, gravurista e escultora.

Sobre Fernando Ribeiro
Fernando Ribeiro é natural de São Paulo. Sua identidade com o desenho vem desde os anos iniciais de sua adolescência. E, por influência da obra de Robert Crumb, inicia sua carreira aos 16 anos, na Lynx Film, como arte-finalista, e participa do longa-metragem de animação “Simplex”, ganhando o Leão de Ouro em Cannes, França. Transfere-se para o Rio de Janeiro e começa a trabalhar no Estúdio Hanna Barbera. Na época, estuda com o cartunista Molica, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro.

Ao retornar a São Paulo, Fernando Ribeiro é convidado a assumir a criação do tablóide infantil dominical do Diário do Povo. Aluno do atelier Nelson Leirner, no Rio de Janeiro, torna-se produtor do artista nos anos seguintes, como também seu assistente em exposições nacionais e internacionais. A partir de 1990, dedica-se exclusivamente as Artes Plásticas.

Junta-se a Cooperativa dos Artistas nos anos 1990, chegando a exercer o cargo de diretor.

Permanece no grupo por mais de uma década. Em 2001, inicia parceria com a Mônica Filgueiras Galeria de Arte, sua representante desde então, e local onde participa de sua primeira exposição – coletiva – de objetos e esculturas.

Após algumas tentativas de trabalhos coletivos, seu espírito inquieto o faz decidir-se por uma trajetória individual, que já demonstra resultados por haver ultrapassado fronteiras locais e internacionais com suas criações.

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