3.11.11

Eduardo Kobra inicia obra no maior evento de 3D do mundo, em Sarasota, nos Estados Unidos


O muralista e artista plástico Eduardo Kobra (Carlos Eduardo Fernandes Léo) chegou começou ontem, quarta-feira, dia 2 de novembro, seu trabalho em 3D em Sarasota, nos Estados Unidos, no Sarasota Chalk Festival, considerado o maior evento de pintura em 3D do mundo. Este ano, o evento tem a curadoria do grande Kurt Wenner. Participam vários artistas de arte urbana, como John Pugh, Anat Ronen, Duane Schoon, George Colon e os franceses Konos e Astro. Kobra, que é o único convidado brasileiro, viajou ao lado de outros três artistas do Studio Kobra (Agnaldo Britto, Marcos dos Santos e Andressa Munin) que também têm as despesas pagas pela organização do evento. O brasileiro participa do festival com três trabalhos: uma pintura em 3D (cena de um menino dentro de uma biblioteca), a Garage Art (a pintura de um estacionamento, ao lado de outros quatro artistas - cada pintor será responsável por um andar) e a pintura de um prédio na avenida Pinapple, retratando uma cena de Sarasota na década de 40. O evento vai até o dia 7 de novembro e transforma grande parte da cidade em uma verdadeira galeria a céu aberto.




Kobra apresentou à organização do evento duas obras em 3D – além do menino na biblioteca, havia outra com temática bem brasileira, com capoeiristas, fauna e flora brasileiras, mulatas e carnaval. Ao final, a obra preferida foi a primeira: “Lembrei da famosa frase do Leon Tostói: ‘universal é o homem que escreve sobre a própria aldeia’. Por isso decidi fazer um projeto com cenário bem brasileiro, além de um outro com uma das minhas grandes paixões: o livro! Acabamos optando pelo segundo trabalho, principalmente obedecendo a critérios técnicos de visibilidade do 3D para o público. Falando de maneira simples, uma obra na vertical ficava melhor no espaço que uma na horizontal”, afirma.


 
O artista está fascinado com o evento e com o fato de participar dele. “Chego a beliscar-me, de verdade, para ver se não é um sonho. Recebemos com muita honra o convite da direção do evento, que nos selecionou com o único representante do Brasil. Além de ser um encontro super importante, ainda pode estar próximos do Kurt Wenner, o principal nome da arte em 3D no mundo, que é curador e, ainda, de vários outros artistas, diz Kobra, que acrescenta: “uma das grandes dificuldade do trabalho aqui é a concentração. Há tanta gente importante e talentosa, que às vezes dá vontade de escapar e parar de trabalhar por alguns horas para olhar o processo produtivo dos outros artistas. Há muito para mostrar mas também para aprender por aqui”, afirma


 

Kobra esteve recentemente quase um mês na Grécia, ao lado de Agnaldo Britto Pereira. Chegou ao Brasil no final de agosto, após concluir seu primeiro mural em Atenas, que havia sido atacado por religiosos, revoltados com o que chamavam de agressão a Deus, já que no mural “Evolução Desumana”, do seu projeto “Greenpincel”, na capital grega, apareciam imagens da evolução segundo Charles Darwin. Antes da Grécia, Kobra entregou murais em Londres (Inglaterra) e Lyon (França).


O Studio Kobra entregou recentemente vários murais para a cidade de São Paulo, dentro de seu novo projeto, o Greepincel. Fez o “Mar da Vergonha”, onde critica o massacre de centenas de golfinhos na pequena cidade de Taiji, na costa meridional da ilha japonesa de Honshu; o “Sem Rodeios”, depois de ficar chocado com as imagens nos jornais e sites do bezerro abatido pelo peão César Brosco durante a 56ª. Festa do Peão de Barretos; o igualmente chocante mural “Welcome to Amazônia” e o “CO2”, além do primeiro trabalho do Greenpincel, “Navio Baleeiro” (obra crua e forte, baseada em uma cena da caça de uma baleia pelo navio Yushin Maru).

Segundo Kobra, o Greenpincel pretende denunciar e combater artisticamente as várias formas de agressão do Homem à natureza. “Todas as tragédias naturais que têm acontecido em nosso planeta mostram que proteger os animais e a natureza como um todo é também uma forma de protegermos o ser humano. Particularmente, sou um apaixonado por plantas e animais. São temas que namoro há muito tempo e, por isso, decidi que já era hora de colocá-los também dentro do meu trabalho como artista”, diz.



O Greenpincel marca uma nova etapa nas obras de rua do artista, que buscam basicamente preservar a memória e trazer beleza aos paulistanos, em meio à correria do dia-a-dia. “Gosto muito de resgatar a história e levar beleza às ruas das cidades, o que faço principalmente no projeto ‘Muro das Memórias’, mas há situações de denúncia em que devemos chocar, mostrando, como disse, artisticamente as agressões feitas contra o nosso Planeta”, afirma Eduardo Kobra, que há três meses inaugurou diversas obras no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.



Trabalhos Internacionais
O muralista e artista plástico fez recentemente três murais na Europa. Em maio deste ano em Lyon, França, pintou o mural Imigrantes (de 17mX3,5m), no bairro de Guillotiére, que é conhecido por abrigar muitos imigrantes, vindos de diversos países e continentes. Um novo projeto da Prefeitura da cidade prevê a demolição de várias casas e prédios históricos dessa região, para a construção de uma ampla avenida, trazendo modernidade às custas da perda de patrimônio histórico e, principalmente, da retirada de antigos moradores. “Minha pintura fez parte de uma série de eventos e protestos contra essa ação da Prefeitura”, explica o artista. Todo o processo produtivo de Eduardo Kobra foi acompanhado pelo francês Gilbert Codene, líder de uma das principais equipes de pintores muralistas no mundo.

Antes de Lyon, Kobra passou algumas semanas em Londres, onde fez, em abril, um mural na bicentenária Roundhouse. Nesse muro já existiram outros trabalhos. O primeiro foi do famosíssimo grafiteiro Banksy (um documentário sobre ele concorreu este ano ao Oscar). “O trabalho de Banksy foi atacado por uma senhora que mora no bairro e não gostou da obra, destruindo-a com tinta branca. Pouco depois, vários artistas utilizaram o muro para protestar, desenhando uma onça e colocando frases contra o ataque”, conta Kobra. A Roundhouse fica no Camden Town, um dos bairros mais descolados de Londres e é umas das casas mais importantes da capital inglesa. Por lá já se apresentaram nomes como Mick Jagger.



Na Grécia, Kobra fez, com Agnaldo Britto Pereira, em um ponto nobre de Atenas (próximo à estação do metrô Pefkakia), o mural “Evolução Desumana”, com cerca de 35 metros de comprimento por cinco de altura, dentro de seu projeto Greenpincel. Kobra deixou a Grécia no dia 23 de agosto e chegou a São Paulo no dia 24.

“Sempre respeitei as culturas e as religiões. O meu trabalho é com Arte Urbana e, claro, ele acontece principalmente nas ruas, o que aumenta ainda mais a minha responsabilidade, já que minhas obras são vistas por todos os tipos de pessoas. Mas parece-me claro que o fato de não gostar de algum trabalho artístico, por sua qualidade ou temática, não dá a ninguém o direito de destruí-lo. Se assim o fosse, esses religiosos poderiam entrar no Museu de História Natural de Nova York, onde a evolução da espécies e, principalmente, humana é mostrada de forma realista, e destruírem tudo! Respeitar o direito de expressão é básico na Democracia que, por sinal, começou aqui na Grécia. Por isso decidimos, ainda que exista algum perigo de um novo ataque ao muro, refazer o trabalho, com algumas modificações estéticas, mas ainda dentro do mesmo tema. Não podemos ceder espaço para os intolerantes”, diz Eduardo Kobra.



O artista brasileiro viajou para Atenas, a convite de Kiriakos Isofidis, sócio da editora Carpe Diem, que já publicou três livros sobre muralismo (“Mural Art Book 1, 2, e 3”), além de diversos outros livros sobre Street Art. O terceiro volume de “Mural Art Book” traz duas páginas sobre o trabalho de Kobra. Isofidis também dirige o grupo Carpe Diem, um dos principais de arte de rua na Grécia.

Mais sobre o artista
Muralista e artista plástico, o brasileiro Eduardo Kobra, 35 anos, nascido no estado de São Paulo, é um expoente da neo-vanguarda paulista. Seu talento brota por volta de 1987, no bairro do Campo Limpo com o pixo e o graffiti, caros ao movimento Hip Hop, e se espalha pela cidade. Com os desdobramentos que a arte urbana ganhou em São Paulo, ele derivou – com o Studio Kobra, criado nos anos 90 - para um muralismo original - inspirado em muitos artistas, especialmente os pintores mexicanos e no design do norte-americano Eric Grohe - beneficiando-se das características de artista experimentador, bom desenhista e hábil pintor realista. Suas criações são ricas em detalhes, que mesclam realidade e um certo “transformismo” grafiteiro.

Nesse caminho ele desenvolveu o projeto “Muros da memória” que busca transformar através de murais a paisagem urbana e resgatar a memória da cidade. Os desenhos são a síntese do seu modo peculiar de criar - através do qual pinta, adere, interfere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século XX. Essas obras são uma junção de nostalgia e modernidade, por meio de pinturas cenográficas, algumas monumentais. Através delas cria portais para saudosos momentos da cidade. O maior destes murais, que mede 1000 m2, foi realizado em 2009 na avenida 23 de Maio, em comemoração ao aniversário de São Paulo. “A idéia é estabelecer uma comparação entre o ar romântico e o clima de nostalgia, com a constante agitação de hoje”, afirma o artista.

O projeto alcançou repercussão nacional. Além dos inúmeros trabalhos na cosmopolita São Paulo, a maior cidade brasileira, Kobra produziu murais em Brasília, Rio de Janeiro, Belém do Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

 

Kobra, inquieto, estudioso e autodidata, também faz pesquisas com materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura em 3D sobre pavimentos (muito difundida por nomes internacionais, como Julian Beever e Kurt Wenner). A convite da prefeitura de São Paulo, o artista realizou diversas obras em 3D, como na Praça Patriarca, no centro da Cidade, a primeira no Brasil; e na Avenida Paulista, símbolo da megalópole. A técnica anamórfica consiste em "enganar os olhos". A pintura é distorcida ou mesmo incompreensível na maioria dos ângulos de visão, mas ao ver do ângulo correto, estipulado pelo artista, se torna um 3D com incrível variação de profundidade e realismo. Recentemente o artista iniciou um novo projeto, o “Greenpincel” (citado no início e final deste release).

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