Pela primeira vez, uma casa em São Paulo se transforma inteiramente numa instalação artística de vidro colhido no lixo. Há trinta anos trabalhando com vidro, a artista plástica Debora Muszkat expõe não só a intimidade da sua obra, mas a sua intimidade ao viver dentro da sua própria instalação de arte, aberta à visitação. As peças de vidro tomam do banheiro até o jardim, passando pelo quarto da artista, até a cozinha.

A partir de 19 de junho a artista apresentará uma instalação de grandes dimensões composta por uma estrutura de ferro e vidro em formato de uma ponte móvel no meio de um jardim de vidro e plantas. A obra ocupa uma área de 200m2 na casa-atelier da artista; um verdadeiro laboratório de pesquisa na transformação do vidro. A exposição, intitulada “Vidra Vida”, explora o jogo de reflexos e luzes que se criam a partir da intervenção de espelhos, água e objetos de vidro no espaço cotidiano. Através de uma experiência multi-sensorial – em que as instabilidades da imagem se duplicam e transmitem para o corpo do próprio espectador — a obra tematiza as relações sempre delicadas entre a técnica moderna e o meio-ambiente, assim como entre consumo e responsabilidade social.
O visitante poderá interagir com a obra atravessando ou “balançando” a ponte, criando movimentos por intermédio de sua estrutura móvel. Superfícies reflexivas espalhadas pelo local proporcionarão uma multiplicidade de ângulos pelos quais se pode apreender a interação de luzes, cores, reflexos e movimentos. Além disso, todos serão convidados a filmar, fotografar, gravar os sons e postar suas intervenções no Facebook, que terá pagina montada especificamente para este fim. Ainda no contexto da rede social, a artista junto ao jornalista Marcelo Coelho e outros participantes do projeto incentivarão discussões sobre temas subjacentes ao trabalho da artista, como o do papel da arte na contemporaneidade, na cultura, educação, cidadania e ecologia.
Nas palavras de Marcelo Coelho , Debora Muszkat “não só recicla mais uma vez as garrafas de vidro industrial, mas também a obra de outro artista, o Claude Monet das `Ninfeias´ . Só que Monet é referenciado em um ambiente completamente diferente, nada rural e nada idílico, mas bastante contemporâneo, a piscina da casa da artista. A famosa ponte de Monet em Giverny ganha uma nova tradução numa estrutura de metal de mais de três metros de altura e cinco de comprimento. Na piscina, flores flutuando refletem a ponte, suas cores, o céu e a luz do dia. “O jogo de reflexos, entretanto, não se fará apenas por meio do elemento natural da água de um lago. Além da água da piscina, também o espelho – esse produto antiqüíssimo e também contemporâneo, industrial — fará o trabalho de refletir as cores, as flores de vidro imaginadas pela artista. E o que é o espelho, afinal, do que a “máquina imaginária” de reproduzir uma coisa igual a si mesma? Aquilo que a indústria faz todo dia, produzir o mesmo produto, sempre igual, indefinidamente, é simbolizado aqui nos pedaços de espelho que se refletem um ao outro, sem fim, num ciclo infinito de imagens. Debora Muszkat, nos leva a outro mundo – que é, finalmente, o nosso, e está ao alcance de todos, quando a visão estética e a preocupação ambiental dessa artista nos são capaz de conduzir, levemente, com delicadeza, nesse percurso de encontro, reencontro, reciclagem com nós mesmos.
O jornalista e educador Gilberto Dimenstein diz: “a exposição é uma amostra sublime da união da ética - a sustentabilidade - com a estética. Ninguém sai indiferente desse mergulho sensorial. Ali, ficamos todos transparentes como se fôssemos de vidro".
Na edícula da casa-atelier, funcionará uma "galeria" onde o público poderá apreciar e adquirir trabalhos recentes criados por Debora em parceria com o grupo de grafiteiros D10 (coletivo formado com ex- alunos do Projeto Aprendiz) e com o grupo de jovens da Oficina do Vidro, tais como pratos, copos, etc, entre outros utilitários.


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