Nos últimos meses presenciamos uma certa histeria com a onda deste novo virus. É impressionante o tamanho do estrago que um ser tão ínfimo pode fazer. Mas isso não me preocupa nem me tira o sono. Sei que nesse exato momento, milhares de pesquisadores estão quebrando a cabeça em tempo integral para sanar este problema. Milhões de dinheiros são investidos no combate à doença. Em breve a vacina chegará ao Brasil. E que venha a próxima pandemia.
O que realmente faz os meus cabelos cairem (além da genética, é claro) é o nível do ensino em nossas universidades e afins. Em primeiro lugar porque não tem tantas pessoas assim dedicando tempo, tampouco dinheiro para solucionar esse problemão.
Todo o esforço parece levar a um caminho contrário. Cada vez surgem mais “unis”, cada vez é mais fácil passar nas provas seletivas (em muitos casos o critério é saber pronunciar o próprio nome) e cada vez mais não tem ninguém fiscalizando como deveria. O sistema usado pelo MEC é, em minha modesta opinião, questionável. Um dos parâmetros é a quantidade de doutores e mestres que a instituição oferece. Já tive péssimas aulas com doutores e ótimas aulas com profissionais sem titulação alguma.
Acredito que o caminho não seja por aí. Há também muito improviso, muita gambiarra feita para acomodar professores em diversas matérias diferentes. É mais barato entulhar um docente que tenha tempo disponível em 4 ou 5 disciplinas, do que contratar profissionais qualificados para aquela cadeira. É impossível alguém dar boas aulas de embalagem, semiótica, teoria da cor, criação de marcas e introdução ao design. Alguma coisa vai ser bem improvisada.
Quem paga o pato nessa história? Exatamente quem paga a mensalidade. E não está barato. O que me entristece é a falta de orientação por parte dos alunos que concordam com esse sistema falido e mercantilista. Recentemente abri seleção para estagiários em minha empresa. Recebi muitos emails com cvs e portfolios. A maioria muito fraca, bem aquém do que o mercado precisa. Mas algo me chamou muito a atenção. Pelo menos dois candidatos não possuiam portfolio. Conforme eles mesmos disseram, eram apenas estudantes, mas com muita vontade de aprender. Pergunto-me: o que raio eles estão aprendendo e fazendo na faculdade? O que estão ensinando (ou não ensinando) a esses jovens e perdidos estudantes? Falta orientação, falta “pegada”, falta falar a verdade para esses alunos. Como um aluno vai conseguir estágio na área de design se não tem um portfolio. Isso é mais do que básico. O professor tem a obrigação de abrir os horizontes, falar do dia-a-dia, mostrar o que é realidade, forçar o pensamento conceitual, os porquês, estratégia, posicionamento, enfim, orientá-los corretamente. O problema é o grande abismo entre cotidiano das empresas e os corpos docentes das instituições. Muitos professores não tem conhecimento prático sobre o que ensinam. Buscam informações apenas em livros para repassar conteúdo. Como pode alguém ensinar uma turma a criar marcas, por exemplo, se jamais desenvolveu um projeto similar profissionalmente? Isso é um absurdo que não poderia ser permitido. Outros, para não se indisporem com seus superiores ou com os próprios alunos, não são sinceros na análise dos projetos. Mentem sobre a qualidade, tudo está lindo, muito bom, bem legal e bola pra frente. São distorções que o MEC não dá a minima, basta ter laboratórios e doutores.
Em minha época como estudante, o que eu mais queria era ter acesso ao portfolio dos professores. Eu precisava conhecer quem era aquela pessoa que me orientaria. Credibilidade, essa é a palavra. Hoje, parece que ninguém está nem aí. Não importa saber, é preciso titulação. Não sou contra tíltulos, pelo contrário. Os acadêmicos de carreira são fundamentais para o desenvolvimento de novas pesquisas, novas teorias, novos caminhos e linhas de pensamento. Mesmo assim, em muitas instituições, nem pesquisa decente é conduzida.
Caro estudante, imploro para que você seja mais crítico com seu local de ensino e com os professores. Procure conhecer mais sobre seus orientadores. Exija seus direitos. O virus da ignorância e da passividade é mais contagioso do que o H1N1. E não tem cura.
Zeh Henrique é designer gráfico, professor, palestrante e sócio da Brainbox Design Estratégico.
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