28.6.11

Olhares Urbanos


Em obra multidisciplinar, especialistas em comunicação abordam formas de vivenciar e representar a vida nas metrópoles. Usando conceitos de várias áreas do conhecimento, eles mostram a dinâmica entre o local e o global, entre o consumo e as redes de sociabilidade presentes nos centros urbanos.

Hoje, os estudos sobre as cidades ocupam as prateleiras das bibliotecas e sites acadêmicos na internet. Temas como "sociologia urbana" e "antropologia urbana" atraem centenas de interessados a cursos, seminários e congressos. Ao mesmo tempo, o consumo invadiu todos os espaços da contemporaneidade e gerou profundas mudanças na percepção que os indivíduos têm acerca do funcionamento da vida social na metrópole. Por esse motivo, os intelectuais voltam seu olhar para as questões derivadas desse fenômeno, mais notável principalmente nos grandes centros urbanos.

Fruto dessa diversidade e complexidade, Olhares urbanos - Estudos sobre a metrópole comunicacional (Summus Editorial, 160 p., R$ 38,90), organizado por Ricardo Ferreira Freitas e Janete da Silva Oliveira, discute o uso, a percepção e a representação das metrópoles e de seus personagens por meio da análise de diversas mídias - como televisão, cinema e jornal -, oferecendo um rico material a todos os que se dedicam aos estudos urbanos.

O primeiro capítulo, "Comunicação e espaços urbanos de consumo: o imaginário dos shopping centers", é assinado por Freitas. Ele mostra que esses templos do consumo refletem a transnacionalização do capital: no mundo todo, as mesmas marcas estão expostas nas vitrines. Além disso, existe a preocupação de transformar o espaço na cidade ideal - sem violência, sem sujeira, sem correria e sem poluição -, o que aumenta a vontade dos consumidores de gastar.

No segundo capítulo, "A cidade no cinema: a comunidade intramuros no filme de Shyamalan", Layne do Amaral Pereira analisa o filme A vila, do cineasta M. Night Shyamalan. Na película, uma comunidade rural é assombrada por criaturas que habitam a floresta vizinha. Por trás dessa fábula existe uma crítica feroz à sociedade de consumo e à violência que atinge os grandes centros urbanos, além do desejo que todos temos de viver em um lugar idílico cercado por seres humanos com ideais parecidos com os nossos.

"A cidade como palco da comunicação", de Mônica Sousa, é o terceiro capítulo da obra. Nele, a autora endossa o conceito de "cidade como extensão do homem" e analisa de que forma as múltiplas mensagens comunicacionais influenciam o cotidiano dos cidadãos, especialmente nos jornais impressos.

O quarto capítulo, "A cosmética do desvio: marginalidade em Almodóvar", de Rafael Nacif de Toledo Piza, verifica como o cineasta espanhol retrata em seus filmes personagens quase sempre excluídos e estigmatizados nos grandes centros urbanos: prostitutas, homossexuais, travestis, doentes mentais, viciados em drogas. Segundo Piza, ao dar espaço a esses personagens, Almodóvar rompe com a estética e com os valores do cinema tradicional, fortemente calcado no consumo.

"Crônicas da família e da cidade: relações familiares contemporâneas e ‘transgressão’ nas cidades de Almodóvar e Manoel Carlos" é o quinto capítulo da obra. O autor, Luiz Eduardo Neves Peret, traça um paralelo entre as relações de gênero, sexualidade e família na obra de Almodóvar e na do novelista Manoel Carlos, da Rede Globo. De acordo com Peret, ambos desenvolvem histórias em grandes centros urbanos, mas cada um tem sua maneira peculiar de falar sobre temas considerados tabu.

Em "Os limites entre os espaços do conhecimento e do consumo", Janete, uma das organizadoras da obra, analisa como a privatização crescente dos espaços públicos transformou as universidades em entidades muito parecidas com os grandes centros comerciais - alguns shoppings até já abrigam instituições de ensino superior. Mostra ainda que a comunicação e o marketing têm papel inegável nesse processo.
Por fim, Vania Oliveira Fortuna, em "Temores da cidade: medo e violência nas páginas do jornal O Globo", verifica até que ponto a violência urbana retratada nos jornais impressos corresponde à realidade. Analisando matérias sobre a cidade do Rio de Janeiro veiculadas pouco antes dos Jogos Pan-Americanos de 2007, a autora mostra que, muitas vezes, a sociedade do espetáculo acaba prevalecendo sobre a verdade dos fatos.

"O que une esse grupo de autores é a vontade de discutir o uso, a percepção e a representação dos espaços urbanos e de seus personagens por meio da análise de diversas mídias, propiciando, assim, novas contribuições ao campo teórico da comunicação no que diz respeito ao tema ‘cidade’", explicam os organizadores. "Com isso, pretendemos oferecer material de reflexão para cientistas sociais, antropólogos, jornalistas e todos aqueles dedicados aos estudos urbanos", concluem.

Os organizadores
Ricardo Ferreira Freitas é formado em Comunicação Social (habilitação em Relações Públicas) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em Sociologia pela Universidade Paris V. É vice-diretor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coautor, com Luciane Lucas, de Desafios contemporâneos em comunicação (Summus).

Janete da Silva Oliveira é formada em Relações Públicas e em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Comunicação Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, é coordenadora técnica do Laboratório de Pesquisa Mercadológica da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É uma das autoras do livro Mídia training (Summus).

Título: Olhares urbanos - Estudos sobre a metrópole comunicacional
Organizadores: Ricardo Ferreira Freitas e Janete da Silva Oliveira
Editora: Summus Editorial
Preço: R$ 38,90
Páginas: 160 (14 x 21)
ISBN: 978-85-323-0710-1
Atendimento ao consumidor: 11-3865-9890
Site: www.summus.com.br

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