6.11.10

Exposição leva em conta relações de intensidade entre homem, cidade contemporânea e espaço público


Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) abrirá a exposição individual “Espaçonaves: a cidade não mora mais aqui”, do artista visual baiano Gaio Matos, no próximo dia 17 (quarta-feira), às 18 horas. Com entrada franca, a mostra ficará em cartaz até o dia 31 de dezembro deste ano (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 10h às 18h).



A exposição de Gaio Matos, 39 anos, mestre em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, problematiza a construção do espaço e seus desdobramentos, levando em questão as relações de intensidade entre o homem, a cidade contemporânea e o espaço público. “Penso que os trabalhos da mostra aludem a este espaço movente e fora da lei territorial fixa que rege a arquitetura de projeto, ao mesmo tempo em que por cadeia apontam de forma sutil para uma política habitacional desigual, deficitária e exclusória”, afirma o artista.
Como situar os que habitam ou cruzam fronteiras, refugiados de guerra, população de rua, trabalhos migrantes e “nômades”? Como reterritorializar uma população em trânsito que perdeu suas amarras a lugares definidos? De que forma os sentidos espaciais se estabelecem, e quem tem o poder de tornar lugares os espaços?

“Estas questões se evidenciam quando vivemos uma condição generalizada de “sem teto”, em um mundo sem fronteiras onde as identidades estão se tornando, cada vez mais, senão totalmente desterritorializadas, ao menos territorializadas de forma diferente. Neste jogo, ficam borrados limites familiares entre o “aqui” e o “lá”, o centro e a periferia, a colônia e a metrópole”, visualiza Gaio Matos.

É desta perspectiva que se torna possível uma interpretação alternativa do lugar e da sua arquitetura; o que dá ao lugar sua especificidade é o fato de que ele se constrói a partir de uma constelação de relações sociais que se encontram e se entrelaçam em um ponto particular que novamente se abre.



Assim, em vez de pensar em um lugar com fronteiras ao redor, “posso imaginá-los como momentos arquitetônicos estruturados e articulados em redes de relações e entendimentos sociais. Isso, por sua vez, permite um conceito de lugar extrovertido e progressista que inclui a consciência de suas ligações com um mundo mais amplo. Em primeiro lugar, eles não estão estáticos. Se os lugares podem ser conceituados em termos das interações sociais que agrupam, essas interações em si mesmas não são inertes: elas são processos”, destaca Gaio Matos.

O artista visual baiano prossegue com seu raciocínio: “talvez se deva dizer isso dos lugares, que eles também são processos. Em segundo lugar, um lugar não tem de ter fronteiras no sentido de divisões demarcatórias ou possuir uma arquitetura permanente e visível. É evidente que as fronteiras são necessárias para certos tipos de estudo, mas não são necessárias para a conceitualização de um lugar em si. Finalmente, os lugares não têm de ter “identidades” únicas ou singulares: eles estão carregados de conflitos. Sobre o que foi passado, como é o seu presente e o que poderá ser seu futuro”.

Texto do artista Gaio Matos
A turbulência dos espaços liberados pela multiplicidade de diferenças presentes na vida pública da cidade levou-me a presentificar algumas questões. De que forma os sentidos espaciais se estabelecem, e quem tem o poder de tornar lugares os espaços? Quem dramatiza e faz do espaço público um espaço-fluxo em permanente estado de conflito onde o contato, controle e a disputa social tem lugar?

Estas questões se evidenciam quando a produção da escala pública numa metrópole como Salvador escapa a qualquer tentativa de planejamento e apreensão tanto qualitativa como quantitativa. Assim, a praça e sua vizinhança podem ser vistos também como o espaço do consumo coletivo, das antagonias espaciais, da exclusão e da instabilidade por excelência. Neste pulsar onde a velocidade, o volume, o choque e a justaposição de perspectivas, ficam borrados limites convencionais entre o que é vivo e o que é estático.

Isso nos faz pensar em um sentido de lugar progressista, não fechado e defensivo, mas voltado para fora e que combine com a recusa do produto e dos processos do “ficar parado”, que contraria e ofusca um conceito espacial estável e historicista modelado e demarcado por geógrafos e arquitetos em torno de divisões estáticas como sendo o território institucionalizado por um poder hegemônico.

É desta perspectiva que se torna possível uma interpretação alternativa do lugar e da sua arquitetura; o que dá ao lugar a sua especificidade é o fato de que ele se constrói a partir de uma constelação de intensidades que se encontram e se justapõem em redes de relações e (des)entendimentos sociais. Isso, por sua vez, permite um conceito de lugar extrovertido e progressista que inclui a consciência de suas ligações com um mundo mais amplo. Se os lugares podem ser traduzidos a partir do encontro de intensificações que se agrupam no seu entorno, essas intensidades em si não são inertes: elas são processos. Talvez se deva dizer também isso dos lugares, que eles também são processos.

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