24.11.10

Mostra inédita reúne 26 telas do italiano Eros Oggi


A longa existência, tem hoje 90 anos, de Eros Oggi tem sido o percurso de uma extraordinária aventura. Nada parece ter faltado: universitário em Bologna, soldado na Segunda Guerra Mundial, prisioneiro de guerra durante três anos, imigrante, empresário, chef, executivo de restaurantes industriais, pintor, escritor, historiador, arquiteto e construtor empírico. Um dia, já perto dos 50 anos, resolve aprender a pintar e se matricula na Escola Panamericana de Arte. Leva o filho de 13 anos consigo, pois deve buscá-lo no liceu e não tem onde deixá-lo. Lá aprende rudimentos técnicos, é estimulado pelos professores de desenho e pintura, escuta algumas coisas da história da arte e dos artistas. Depois, nos seus pouco horários livres, desenha e pinta até a exaustão. Desta maneira pinta muito, a té encontrar o seu jeito de fazer o que deseja. Ai descobre que possui uma técnica e que ela é ajustada ao seu modo particular de ser.

É esse o trabalho que o Espaço Cultural Citi, a galeria de arte da Avenida Paulista, apresenta a partir de 4 de outubro, a exposição Arte e Vida em Eros Oggi, reunindo 26 pinturas, óleo sobre tela, de um período entre 1996 e 2010, com preponderância de obras realizadas nos anos 2000. A mostra permanecerá no Espaço Cultural Citi até 14 de janeiro de 2011.

Segundo o curador da mostra, o crítico Jacob Klintowitz, “Eros Oggi não tinha qualquer propósito de viver o circuito das artes. Apenas procurava a maneira de dizer o que desejava. E a encontrou.”

O Espaço Cultural Citi é uma galeria pública visitada mensalmente por cerca de 50 mil pessoas que trafegam pela Avenida Paulista e região. O espaço mantém a sua vocação de mostrar obras de arte no centro vital de São Paulo. Desde 2005, passaram por ali as obras de nomes consagrados, como Rubens Gerchman, Luiz Paulo Baravelli, Gregório Gruber, Romero Britto, Newton Mesquita, Odetto Guersoni, Ivald Granato, Takashi Fukushima, Caciporé Torres, Sérgio Lucena, Antonio Peticov, Maurício de Sousa e Shoko Suzuki, além de jovens que se firmam como Luciana Maas, Maurício Parra, Carola Trimano e Manu Maltez.

O Espaço Cultural Citi (Av. Paulista, 1111, térreo, fone 11.4009.3000) fica aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas; aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 17 horas. Acesso a pessoas com deficiência física pela Alameda Santos, 1146. A entrada é gratuita.

Arte e vida em Eros Oggi
Jacob Klintowitz

Algumas pinturas nos falam tão diretamente da vida que é impossível separar a atividade do pintor da existência cotidiana do artista. Este dado fascinante, a correspondência entre a arte do pintor e a sua biografia, é a mais persistente convicção do público em todos os tempos. Parece inútil pretender que a personalidade e a individualidade não devem estar presentes na arte e que esta deve ter uma independência formal ou uma intensidade energética sem a marca do autor. No caso do artista Eros Oggi, 90 anos, esta pretensão seria absurda, de tal maneira está imbricada a sua experiência vital e a sua expressão pictórica. Arte e vida em Eros Oggi possuem uma correspondência absoluta.

A longa existência de Eros Oggi tem sido o percurso de uma extraordinária aventura. Nada parece ter faltado: universitário em Bologna, soldado na Segunda Guerra Mundial, prisioneiro de guerra durante três anos, imigrante, empresário, chef, executivo de restaurantes industriais, pintor, escritor, historiador, arquiteto e construtor empírico. Todas estas situações e atividades estiveram impregnadas de completo comprometimento com a ética e serviram de base para as continuadas séries testemunhais em que transformou o seu desempenho artístico em um valioso documento humano a nos relatar os séculos XX e XXI.

É preciso saber, antes de tudo, que se trata de um pintor que pinta as suas idéias. E o faz com vigor. Eros Oggi é um observador da vida social e tem ojeriza à assimetria, à injustiça e ao sofrimento. E este é o tema de sua literatura e de sua pintura.

A série de pinturas “São Jorge e o Dragão”, por exemplo, é épica e trágica. Nela o artista, a partir de uma mitologia popular, pinta cenas da luta de São Jorge e o Dragão. A simbologia é clara, pois refaz a luta do Bem contra o Mal. No início, tínhamos um santo que defendia a humanidade contra o demônio malévolo. No desenvolvimento da série, o Dragão começa a encurralar São Jorge. O consumismo e a globalização fortalecem o Dragão. A cena adquire progressiva complexidade com a geometrização das figuras e da composição. Nada mais é tão simples. Por vezes o herói e o monstro parecem se misturar. O artista torna as figuras elegantemente ovais, belas e terríveis. Não há mais distinção. Os símbolos se revelam na excelência da linguagem.

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