26.8.10

Joseph Beuys tem a maior retrospectiva já realizada no Brasil


Exposição Joseph Beuys - A revolução somos nós reúne no SESC Pompeia 250 obras do artista alemão, entre cartazes, múltiplos, ações em vídeo e documentários

A maior retrospectiva já dedicada à obra do artista alemão Joseph Beuys no Brasil chega dia 16 de setembro ao SESC Pompeia, em São Paulo. Realizada pelo SESC São Paulo e a Associação Cultural Videobrasil, a exposição Joseph Beuys - A revolução somos nós reúne 250 obras criadas de 1964 a 1986, entre cartazes, múltiplos, vídeos que registram ações históricas do artista e documentários sobre sua obra.

A exposição será acompanhada por uma intensa programação educativa, que inclui um Seminário Internacional sobre Beuys, além de cursos, oficinas e visitas inspirados nas práticas do artista. Uma cerimônia de plantio de árvores, que lembra a escultura viva 7000 Carvalhos, criada por Beuys em 1982 para a Documenta de Kassel, abre o seminário, no dia 18 de setembro.

Com curadoria de Antonio d’Avossa, especialista na obra do artista, Joseph Beuys - A revolução somos nós revela a diversidade de estratégias usadas por Beuys para difundir suas proposições políticas e filosóficas – e o projeto de comunicação por trás da obra do artista alemão mais importante do século 20.

“A preocupação constante com a mediação e o gesto político de Beuys tornam a exposição extremamente pertinente no contexto das discussões da 29ª Bienal de São Paulo”, diz Solange Farkas, presidente do Videobrasil e curadora do Museu de Arte Moderna da Bahia, para onde a exposição segue em dezembro.

A exposição
A partir de uma complexa articulação de referências teóricas, que vão do cristianismo à antroposofia, Joseph Beuys (19210-1986) construiu uma obra referencial para a concepção contemporânea de arte. O compromisso político e a crença na transformação social como trabalho artístico marcam seus trabalhos, que se valem de estratégias variadas: ação, escultura, instalação, debates, múltiplos, cartazes.

A produção representada pela exposição corresponde a um período de intensa atividade política, durante o qual Beuys adere ao partido ambientalista alemão Os Verdes, cria a Organização pela Democracia Direta por Plebiscito e funda a Universidade Livre Internacional (F.I.U.), instituição de ensino e debate livres.

Nesse período, Beuys agrega às exposições e performances debates e palestras nos quais defende a ideia de escultura social – a transformação da sociedade como obra artística coletiva. Nesse contexto, passa a usar múltiplos e cartazes como veículos de difusão.

“A partir da segunda metade dos anos 1960, os múltiplos e cartazes tornam-se um verdadeiro arsenal de propaganda para a escultura social e o conceito ampliado de arte”, diz Antonio d’Avossa. “Beuys traça com eles uma estratégia paralela à sua obra e integrada a ela.”

Cartazes
A coleção de 200 cartazes que estará no SESC Pompeia é a maior da Europa e aparece reunida em sua totalidade pela primeira vez. Pertencente ao empresário italiano Luigi Bonotto, colecionador também de documentos e obras do grupo Fluxus, o conjunto revela um artista envolvido em um percurso intenso de exposições e performances em galerias, museus e festivais na Europa e na América, mas também em intensa atividade política: encontros, debates, projeções.

"Beuys não perdeu nenhuma chance de usar esse meio de comunicação de massa para dar forma visual ao seu pensamento”, diz d’Avossa. Assim, um cartaz de 1972 denuncia a demissão do artista da Academia de Belas-Artes de Düsseldorf, onde ocupava a cadeira de escultura monumental, por haver admitido em seus cursos 142 estudantes excluídos da seleção. Em outro, que marca sua participação na 15ª Bienal de São Paulo (1979), publica a íntegra de seu manifesto Conclamação para uma alternativa global.

Beuys usa os cartazes para difundir os slogans que sintetizam suas ideias sobre arte e política – Criatividade = Capital, A revolução somos nós; para anunciar a campanha eleitoral dos Verdes, de 1979; para registrar a ação em que varre uma praça de Berlim depois da passeta do Dia do Trabalho (1972) e expõe o lixo para denunciar "a rigidez ideológica do marxismo".

“É uma produção que oscila continuamente entre política e estética”, diz d’Avossa. “Os cartazes nos convidam a ver a obra de Beuys como um processo de comunicação dentro e fora do sistema da arte”.

Múltiplos
Entre 1965 e 1986, Beuys criou cerca de 600 múltiplos, alguns em edições ilimitadas, outros em tiragens de até 12 mil exemplares. Os múltiplos tornaram-se moda no início dos anos 1960, como uma nova forma de produção artística possibilitada pelas técnicas de reprodução. Para Beuys, eles eram “ideias e memórias permanentes, pontos de referência, monumentos transportáveis.” Além de chegar a um número maior de pessoas, significavam a possibilidade de colocar em discussão a obra de arte como fetiche.

A exposição reúne 40 múltiplos, que variam de exemplares da revista Der Spiegel com o artista na capa a objetos: a Bateria Capri, em que uma lâmpada se alimenta da energia de um limão; cartões-postais de feltro e madeira; e vinhos e vidros de azeite que carregam a marca da Universidade Livre Internacional (F.I.U.) e/ou do projeto-movimento Defesa da Natureza, que visava estimular a revalorização da agricultura na Itália.

“Para ele, não se tratava de vender obras de arte em maior quantidade, e sim de dar impulso a uma transformação na arte e na sociedade que, em última instância, se revela política”, diz o curador da exposição.

“Não foi por acaso que os múltiplos tornaram-se os veículos de propaganda da Organização pela DemocraciaDireta por Plebiscito e da F.I.U. Apenas na vinculação com a práxis espiritual e política do artista eles adquirem sua verdadeira importância.”

Vídeos
Uma seleção de 20 obras em vídeo, datadas de 1964 a 1987, integra a exposição Joseph Beuys - A revolução somos nós. As obras ficam em exibição permanente em quatro recintos dentro do espaço expositivo, e se dividem entre registros de ações históricas e documentários sobre o artista.

O bloco histórico inclui performances seminais do grupo Fluxus, do qual Beuys fez parte, ao lado de Nam June Paik, George Maciunas. Entre as ações mais célebres do artista, o programa tem Eurasienstab (1968), ritual destinado a unir Oriente e Ocidente; e I Like America and America Likes Me (1974), em que Beuys interage com um coiote dentro da galeria nova-iorquina René Block.

Para comprovar a multiplicidade de estratégias de Beuys, o videoclipe Sonne statt Reagan (Sol em vez de Reagan) mostra o artista interpretando, com a banda new wave alemã Die Desserteure, uma canção de protesto contra a política armamentista do então presidente americano Ronald Reagan, em 1982.

A seleção inclui ainda uma série de documentários em que Joseph Beuys explica fundamentos de sua obra, como o uso do feltro e da gordura. Um deles, Transformer (1979), acompanha o artista durante a montagem da maior retrospectiva que recebeu em vida, no Guggenheim Museum de Nova York, em 1979.

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